Periescrito
Sou poeta sujo, aquele que ninguém conhece o vulgo, prazer Akuma e não tenho nada de absurdo.
Não sou um gênio, mas estudo e demonstro empenho.
O que eu tenho pra poesia é vivência, lápis, caneta, escrita e a dor.
Dor aguda anestesiada pela composição que reflete minha vida, e o barulho da minha mente finalmente se silencia.
Odeio usar roupa de marca, de qualquer umas dessas podres empresas capitalistas.
Os melhores trajes é made in favela, se for pra uma beca usar uma que seja daquele artista de quebra, e mostrar que a quebradinha sempre vai ter a melhor estética.
Quem te cativas?
Me cativa aquele que teve a mesma vivência que a minha, afinal foi nas ruas e vielas que montei minha família, só por ela eu boto a cara e bato de frente pra
dizer que não...
Que não foi bala perdida.
Pode ser no morro ou na pista, até em área de boy essa bala só pega nós favelinha.
Os boys gostam da nossa alegria, mas não quer viver a dor e a covardia da nossa vida, poder sair por aí dizendo que é cria, mas mal sabe o que significa, mas vale tudo pra ser destaque e estar à vista.
Maldita mídia.
Tipo as patricinhas sabem aquelas loirinha, que cola
na pista pra ter aventura, só se preocupa com papai descobrir.
Enquanto nois não sabe qual refeição será a última, fica ainda mais difícil de sorrir.
Sou poeta sujo aquele sujismundo.
Só os pés de barro, os pés parecendo casco de tanto andar descalço.
Desde pequeno correndo, pros moleque pequeno só brincando pulando muro, se divertindo muito.
Até aparecer um bruto mudando todo clima do lugar em um segundo.
Tem uma cena que eu lembro.
Sujismundo escondido no bueiro nem sabia quem tava atrás, só lembrava do medo.
Primeira chance e de novo o moleque correndo, do nada os faróis iluminavam seu contorno.
Foi parado, assustado, ameaçado e era perceptível o quanto achavam engraçado.
Sua pupila dilatada me encarava parecendo que me olhava na alma, depois que se encontrava
congelado, finalmente dispensado e conseguiu
voltar pra casa e deitar no chão gélido do quarto.
Só pra pensar quanto tempo seremos obrigados a sofrer esse esculacho.
Autor: Akuma
Digitalização: Clio Company
Artista visual: Naka
Apoio: Sarau do boa