Pobre diabo
Esses dias eu sentei pra tomar um café e conversar com o diabo.
Depois de tantos encontros pela primeira vez, o vi chateado.
Me deixou confuso seu olhar derrotado.
Ele tão cabisbaixo sentado ao meu lado.
Ele veio a mim e disse que se sentia deslocado.
Eu sem entender nada, perguntei o que deixaria o diabo tão machucado.
Ele me disse que a séculos ele só podia ver enquanto perdia seu trabalho.
Ele que costumava ser o mal encarnado.
Hoje é só mais um nome, ele sentia que em algum momento seria só outro coitado.
Afinal a humanidade chegou num nível que o próprio estava desacreditado.
Ele dizia que estava cada vez mais claro que ele não conseguia pensar em mais nada maligno, se
comparado com onde a humanidade havia chegado.
Isso explica o porquê quando olho para o céu, parecemos separados por um véu.
Com sua visão quase suprema ele via a tragédia que reina.
Até tentei o animar, afinal o que seria tão forte e
destrutivo quanto o diabo.
Ele olhava pra mim e ria como nunca ele ria, e pensar que o mundo tá mais próximo de ser
destruído por ogivas.
Eu respondi dizendo que ele era o melhor em causar confusão e ele retrucou, que não era ele que virava irmão contra irmão.
Todos vem da mesma graça e mesmo assim se matam pelo que manda os covardes de gravatas.
Eu já estava começando a ficar sem respostas.
Pensei em alguma proposta mas só me sentia mais e mais idiota.
Eu falei que era complicado, mas que independente de tudo podia continuar ao meu lado.
E ele reafirmou que já estava muito cansado e que só queria ir pro espaço.
Perguntei se ele sabia se ia encontrar algum alien em sua viagem.
E ele me disse que tinha amigos assim que no sistema solar sempre estavam de passagem.
Eu logo impressionado perguntei por que nunca tivemos contato.
Ele disse que eu era meio sonso mas de leve, afinal vemos todo dia iguais que matam pela cor da pele.
Imagina outro ser que com vocês menos ainda se parece.
Querendo se despedir disse que já ia sair de viagem e que de poucas coisas ia sentir saudades.
Mas voltaria pra contar histórias e compartilhar memórias.
Coitado do pobre diabo.
Que Deus de nós tenha piedade, nem o pai da maldade conseguiu competir com nossa crueldade.
Sorrindo me disse pra tomar cuidado pois até ele tinha medo de qual seria o futuro resultado.
Ele sumiu diante da minha vista, espero que ele volte logo para me fazer uma visita.
Eu naquele momento me despedia parado.
Então... Adeus, pobre diabo.
Autor: Akuma
Digitalização: Clio Company
Artista visual: Naka
Apoio: Sarau do boa