Trampo de gueto



Escrevo o meu soneto, pode me chamar de mula  mas não puxe meu cabresto. 

Posso ser burro de carga, mas de respeito tenho direito. 

Porque nascido e criado na quebrada onde de trampo só temos essa opção precária. 

Que nois tá ligado fazemos o nosso corre, para não ir para o crime. 

Cada menor perdido uma parte da favela que morre. 

No papo quem nunca tá ligado, quem nunca entregou uns panfletos, ou batendo massa o dia inteiro. 

Quem nunca trampou num lava-rápido se matou até ficar tão cansado, só para no final do dia relaxar com um baseado. 

Carregar caminhão como um escravo, só as caixas de fardo mais pesado. 

Mas dessa caminhada tenho orgulho, principalmente vendo o brilho que nos aguarda no 

futuro.  

Nunca cair na boca para coroa já é orgulho. 

Agora mato meus dias com cara no livro e muito estudo. Para quem sabe no futuro fazer verem o outro lado do muro.  

Somos desde o nascimento condenados ao sub e desemprego, mas dessa realidade vamos fazer um 

enterro. 

Que nois vai para o topo, e abre espaço que tá pouco, porque aí em cima vamos encher de 

moleque novo tudo saindo do morro. 

Só para assim você ver a força que há de ter o meu povo. 


Autor: Akuma

Digitalização: Clio Company

Artista visual: Naka

Apoio: Sarau do boa